Recorte Temático: Violência nos Estádios: Reflexo da Sociedade?
O futebol é um marco característico do Brasil. Quando estrangeiros pensam em nosso país, quase sempre se ouve “Futebol, samba e calor”. E, exatamente por ser algo tão ligado à cultura e sociedade brasileira que as atrocidades que são os casos de violência em estádios é algo extremamente assustador. Não é raro ver-se casos de torcedores de times diferentes enfrentando-se fisicamente, aliás, têm-se nos estádios grades delimitando as arquibancadas para cada torcida exatamente para evitar estes confrontos. Além disso, a violência física não é a única praticada nas arenas futebolísticas, existem inúmeros episódios de machismo e assédio nesses lugares contra mulheres torcedoras. Esse tipo de acontecimento só mostra o quanto atos violentos ainda são muito presentes na realidade do Brasil.
Já é quase senso comum que se alguém vai à um estádio a pessoa deve estar preparada para eventuais ocorrências de pisoteamento, empurra-empurra, e, principalmente, brigas entre torcidas. Por exemplo, só em 2017 foram relatados 104 episódios de violência dentro de jogos de futebol, sendo que 11 (onze) deles resultaram em mortes de torcedores. Dois dos mais graves se passaram no Rio de Janeiro e em Campinas, respectivamente. O primeiro foi na final da copa Sul-Americana, onde oito mil pessoas sem ingresso conseguiram quebrar o bloqueio policial e invadiram o estádio do Maracanã, onde acontecia o jogo, e a partir daí foi selvageria total, com direito até a furto a um torcedor desacordado na rua após ser atropelado. Já o segundo caso, passado em Campinas, foi quando, durante uma briga entre torcedores no estádio Moisés Lucarelli, um homem foi agredido por um PM por tentar proteger seu filho de nove anos no meio da confusão, as agressões tendo ocorrido na frente da criança. Tudo isso acontece graças à extrema cultura de agressividade que as pessoas se permitem ter dentro das arenas, como se estes lugares não fossem parte da sociedade como um todo, e graças ao mau treinamento de policiais escalados para conter situações de conflitos em jogos de futebol.
Outro problema bastante comum nos estádios é o machismo. Por ter sido sempre um espaço dominado por homens, alguns destes se veem no direito de constranger as mulheres lá presentes, assediando-as, como se elas não portassem também, o direito de estarem lá. As moças que fazem parte do movimento Dibradoras denunciaram casos de machismo no meio do jornalismo esportivo, onde um dos episódios mais típicos, e, este não só neste meio, é perguntar para a mulher com quem ela teve relações sexuais para conseguir o emprego. Além de outras frases como “Futebol não é coisa pra mulher!”, “Mulher não entende nada de futebol!”, ditas muitas vezes por pessoas retrógradas que não aceitam que os tempos estão mudando e que todos os lugares e esportes são para todos. E, junto das frases machistas ainda se tem o assédio nos estádios, onde homens se acham no direito de tocar partes do corpo da mulher lá presente, ou mesmo dar-lhe um beijo não consentido para comemorar um gol. O Mestre em Educação pela UFRGS, Gustavo Bandeira, diz que isso acontece porque os esportes em geral acabam supervalorizando as construções sociais de masculinidade. E, os homens, para afirmar essa masculinidade, acabam assediando mulheres para mostrarem que são héteros e “machões”.
Percebe-se assim, que a violência nos jogos de futebol, seja ela física ou psicológica, nada mais é do que um reflexo de como a sociedade é agressiva e machista. Por isso, para dar um basta a situações brutais como as citadas é necessário promover uma mudança na sociedade como um todo, por meio de campanhas de conscientização contra o machismo e a violência gratuita, com a punição de assediadores e vândalos e baderneiros travestidos de torcedores que causam confusões em lugares destinados ao lazer de todos, e com maior preparo dos policiais que serão escalados para lidarem com conflitos em estádios.
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